“Bonita, esqueceu de mim?”
Jozailto Lima
A frase ressoa como um chicote virtual sempre que falho na minha missão semanal. Meu algoz? O editor deste portal, o senhor Jozailto Lima, que, sem piedade, me arrasta para o teclado toda segunda-feira.
O nome disso? Assédio. E eu, como boa refém voluntária, continuo aqui. Desavergonhada, submissa à ditadura das palavras e à exigência de alimentar essa coluna que, de alguma forma, já faz parte de mim.
E pensar que sou uma mulher analisada, aparentemente resolvida. Pois olhem a prova do crime: cem textos depois, continuo cedendo a esse capricho. Me pergunto: por quê? Por que me obrigo a essa sentença, semana após semana?
Há dias, como hoje, em que a tela branca me encara com aquele olhar de desprezo, esperando que eu a preencha com alguma genialidade. Mas nada. Nenhuma fagulha de inspiração. E o que faço? Enrolo.
Mas o curioso é que, mesmo começando por obrigação, as palavras vão tomando vida. Elas se libertam, rebelam-se contra minha falta de vontade, me puxam pela mão e, sem que eu perceba, já me conduziram por um caminho sem volta. A escrita tem esse poder: começa como dever e termina como vício.
Escrevo por amor? Talvez. Por vaidade? Provavelmente. Por desejo? Certamente. A escrita me desafia e, ao mesmo tempo, me define. Quem escreve busca reconhecimento, nem que seja o reconhecimento próprio, aquele que nos diz: “Olha só, você conseguiu de novo”.
Seria isso um traço narcísico? Possivelmente. Mas quem nunca se entregou à vaidade de ver seus pensamentos postos num texto, materializados em frases que antes não existiam?
As letras brincam, dançam, se montam, se desmontam, me reinventam. E eu, que pensava ser sua criadora, percebo que sou apenas uma serva. Elas – as palavras – me escrevem tanto quanto eu as escrevo. Escrava dos meus pensamentos, refém do meu editor, condenada a mais 100 textos, pelo menos.
E que venham os próximos! Afinal, quem disse que liberdade é viver sem palavras?
originalmente do JLPolitica.com.br