“O inferno são os outros”. Jean-Paul Sartre
Caro leitor,
Talvez você já tenha ouvido, ou dito, que “só o amor salva”. Que o amor tudo suporta, tudo crê, tudo espera. Que o amor redime. Mas permita-me, com a delicadeza de quem atravessa espinhos sem rasgar a pele, propor uma inversão: às vezes, é justamente em nome do amor que se perpetuam os maiores silêncios. Os mais covardes apagamentos. Os pactos mais cruéis.
Não, não falo do amor genuíno, aquele que, como você bem sabe, implica investimento, aceitação das diferenças, paciência, respeito. Falo do simulacro. Do disfarce. Da ilusão perigosa que esconde o desejo de posse sob a máscara do cuidado. O controle sob a roupagem do zelo. A violência emocional servida em porções diárias de chantagem, manipulação e medo de estar só.
Porque se há um erro que custa caro, é o de esperar que alguém nos complete.
Essa ideia tão romantizada, quanto perversa, é o terreno fértil onde brotam as relações abusivas. O outro não veio ao mundo para ser prótese emocional de ninguém. Tampouco é justo que carregue o fardo de curar nossas feridas, suprir nossas ausências ou preencher vazios que cabem à nossa própria história enfrentar. Relacionar-se não é assinar um contrato de cura, mas um pacto de presença e liberdade.
O amor, em sua versão mais autêntica, não exige submissão nem sacrifica a identidade do outro no altar da harmonia forçada. Ele não isola, não diminui, não impõe medo, não apaga a luz alheia para brilhar sozinho. Amor que adoece, que silencia, que paralisa, que sufoca — não é amor. É domínio. É repetição de traumas travestida de entrega.
É por isso que Sartre, com sua crueza existencial, nos lembra: “O inferno são os outros.” Não todos, claro. Mas aqueles que, ao se aproximarem, transformam nossas potências em restos. Aqueles que confundem intensidade com obsessão, apego com prisão, e se dizem apaixonados enquanto nos desmantelam.
Caro leitor, reconhecer esse abismo exige coragem. Não a coragem heróica das grandes decisões, mas a silenciosa, e por vezes solitária, de voltar-se para si mesmo e dizer: eu mereço estar inteiro. E inteiro, não aceito menos que amor de verdade.
Sim, o amor exige paciência. Mas não conivência. Aceita diferenças, mas não anulação. Exige investimento, mas não sacrifício da própria dignidade. E só pode florescer onde há espaço para ser, para crescer e para partir se for preciso.
É nesse ponto que a epígrafe retorna com peso: o inferno são os outros quando não nos permitem ser quem somos. Quando nos enganam com promessas de completude que nos deixam mais vazios. Quando chamam de amor aquilo que nos devora por dentro.
Mas há sempre uma escolha. A de encerrar o ciclo. A de reaprender a nomear o que sentimos. A de reconhecer que amor que fere não salva. Amor que aprisiona não acolhe. Amor que exige desaparecimento não é amor, é apagamento.
E talvez seja esse, afinal, o começo do verdadeiro amor: aquele que começa por você.
Final de conversa e papo reto com você: você vive uma história de amor ou você está se apagando e perdendo o seu brilho?
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