“Como você ama a si mesma é como você ensina todo mundo a te amar”
Rupi Kaur
Você é a pessoa mais importante da sua vida. Parece um enunciado simples – quase banal -, mas poucas verdades são tão difíceis de viver com coragem. Nós, especialmente as mulheres, fomos educadas para servir, acolher, estar sempre disponíveis.
Dizem que amor é presença constante, renúncia, sacrifício. E então passamos anos carregando nos ombros pesos que não são mais nossos, vivendo expectativas que não foram escolhidas por nós, sufocando a própria saúde em nome de uma fidelidade que nos rouba.
Eu sei bem. Há quase 36 anos, fundei o Círculo Psicanalítico de Sergipe – o CPS. Foi um parto bonito, desejado, cheio de amor. Como toda criação com alma, carrega o meu DNA, minha marca, minha história.
Mas também sei que, ao longo dessas décadas, me tornei uma espécie de guardiã solitária. Afastei-me da Presidência apenas duas vezes, e em ambas fui chamada de volta, como se minha ausência fosse uma falha moral, um abandono.
O discurso que eu ouvia – e ainda ouço – era sempre o mesmo: “Mas como você pode ter coragem?”. “O CPS é seu filho!”. “Você não pode deixá-lo assim!”. E eu, cada vez mais adoecida, com o corpo gritando por descanso, com a alma pedindo licença, me sentia prisioneira de uma instituição que ajudei a construir, mas que não é minha. Uma prisão dourada, construída com afeto, sim. Mas ainda assim, uma cela.
Dizer “não” nessas horas, exige uma força que o mundo não costuma compreender. Porque o mundo exige mulheres incansáveis, cuidadoras infinitas, heroínas silenciosas. Mas a psicanálise nos ensina que todo excesso esconde uma falta. E a minha falta era comigo mesma.
Finalmente renunciei à Presidência. Não foi um ato de fraqueza. Foi um gesto de amor próprio. Foi o momento em que entendi que, mesmo que o CPS tenha sido meu filho, ele cresceu, amadureceu e precisa – como qualquer ser que alcança a idade adulta – caminhar com as próprias pernas.
E se não souber como, que aprenda. Eu quero, agora, cuidar de mim. Não quero mais me sentir responsável por tudo, nem carregar a culpa de não estar presente incondicionalmente. A instituição sobrevive. E deve. Mas eu também quero sobreviver – e mais que isso, quero viver.
Ainda escuto: “Você vai voltar quando?”. “Estamos com saudades”. “Precisamos de você”. E eu penso, com a serenidade que só o tempo oferece: eu não estou com saudades. E não: isso não é indelicadeza. Isso é verdade. O que é cruel, na verdade, é insistir para que eu compareça quando já anunciei minha necessidade de recolhimento, de silêncio, de recomeço.
Amar-se é isso. É saber quando parar. É reconhecer quando o corpo pede trégua. É escutar a própria alma antes que ela grite em forma de adoecimento. Como lembrou Rupi Kaur: “Como você ama a si mesma é como você ensina todo mundo a te amar”.
E eu estou, enfim, ensinando aos outros que também mereço descanso, leveza, espaço. Que posso existir para além das demandas, das funções, dos títulos. Que minha presença no mundo não depende de uma sala de reuniões ou de uma assinatura institucional.
Tudo afeta a saúde mental. Tudo. As obrigações excessivas, a falta de reconhecimento, o silêncio que se espera da mulher forte que nunca pode cair. Eu caí. E ao cair, levantei diferente. Mais lúcida. Mais fiel a mim mesma. Amar-se, afinal, não é um ato de vaidade, mas de coragem. De lucidez. De verdade.
Se você está lendo isso e sentindo um nó na garganta, talvez seja hora de você também se escolher. De romper pactos que já não servem, de colocar limites onde só havia obrigação. Não porque você é egoísta. Mas porque aprendeu, finalmente, a se tratar como prioridade. Amar-se é o começo de tudo. E é também, às vezes, o fim de muito do que já deveria ter terminado.
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