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A bioquímica do afeto: por que emoções também curam?

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Ser profundamente amado por alguém nos  força; amar profundamente alguémnos  coragem

Lao-Tsé

Durante décadas, a Medicina se curvou ao império do laboratório. A lógica era clara: o que não se mede, não existe. O que não se dosa, não importa. E assim fomos reduzindo o humano a enzimas, hormônios, neurotransmissores que são importantíssimos, sim, mas jamais suficientes. Era como se quiséssemos explicar a música apenas com as notas, sem escutar a melodia.

Mas há uma virada em curso. E não vem só da clínica ou da filosofia, mas vem também da própria ciência. Hoje, cada vez mais estudos demonstram aquilo que, intuitivamente, muitos de nós já sabíamos: emoções transformam a química do corpo. E mais que isso: relações significativas, vínculos seguros, presença afetiva. Tudo isso atua em nosso sistema nervoso, imunológico, endócrino.

É a ciência redescobrindo o que o afeto sempre soube. Talvez você já tenha notado: quando está em estado de medo constante, tristeza profunda ou solidão crônica, seu corpo responde. O intestino se desregula, o sono se fragmenta, a pele inflama, o coração dispara.

São respostas reais que não estão “na sua cabeça”, como muitos ainda dizem com descaso. Estão no seu corpo, no seu sangue, nos seus circuitos neuronais. E o contrário também é verdadeiro: quando você é escutado com empatia, tocado com respeito, acolhido com afeto, algo se organiza por dentro.

A bioquímica do afeto é o nome simbólico dessa rede de reações fisiológicas que acontecem quando estamos em estados emocionais positivos, em vínculos confiáveis, em ambientes de cuidado. A ocitocina, chamada por muitos de “hormônio do amor”, aumenta em contextos de proximidade emocional. A serotonina responde à experiência de pertencimento. A dopamina se mobiliza diante da motivação e do reconhecimento. E o cortisol, marcador do estresse, reduz quando nos sentimos em segurança.

Mas veja bem: isso não é autoajuda, é neurociência. E, mais do que isso, é uma convocação para que a Medicina recupere sua dimensão relacional. Porque não há cuidado possível sem vínculo. E não há vínculo sem presença afetiva.

Como psicanalista, não me canso de dizer aos meus pacientes: “O remédio que você toma pode ser o mesmo de outro paciente; mas o jeito como você é escutado, isso sim é o que faz a diferença no seu tratamento”. E não é discurso, é prática. Não é poesia, é protocolo real.

Ao longo dos meus acompanhamentos intensivos, vejo com clareza que a melhora verdadeira não vem apenas do psicofármaco, do injetável, do suplemento ou do ajuste de dose. Ela vem quando o paciente percebe que alguém o vê. Que seu sofrimento tem nome, que sua dor é reconhecida, que sua história importa. Isso, sim, é remédio. E dos mais potentes.

Por isso, o que diz Lao-Tsé ecoa profundamente aqui: “Ser profundamente amado por alguém nos dá força; amar profundamente alguém nos dá coragem.” Talvez o amor, quando compreendido em sua forma ética e comprometida – o amor que escuta, que sustenta, que respeita – seja mesmo uma categoria terapêutica. E não apenas um sentimento vago.

Esse texto é um convite a todos nós: médicos, terapeutas, familiares, cuidadores. Que voltemos a colocar o afeto no centro da clínica. Que paremos de separar mente e corpo como se fossem departamentos distintos. Que percebamos que o olhar que acolhe, a palavra que compreende e o gesto que respeita são também agentes bioquímicos. E que talvez, no futuro, as prescrições incluam menos apenas substâncias, e mais presenças. Porque curar é, antes de tudo, uma forma de amar.

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